quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Xilogravura

A imagem xilográfica é talhada em madeira pelo gravador matuto, com tesoura, de uma perna só; banda de gilete, quicé (faca de cortar fumo), formão ou canivete. Qualquer instrumento cortante, desde que tenha fio afiado suficiente para abrir os sulcos e deles tirar as crenças e tradições cablocas vestidas de anjos ou demônios, de gente ou bichos, de heróis ou bandidos. O Nordeste símbolo de escassez não é muito exigente quando se trata de dar vida a sua fantasia.

O espaço para a expressão gráfica do sertão era antes definido pelo formato dos folhetos de cordel. Hoje não tem mais limite: tacos de madeira (umburana, jatobá, casca de cajá-mirim, cedro ou até mesmo pinho) de qualquer tamanho, formato geralmente retangular. A maior exigência é quanto à superfície, que deve ser plana e lisa, onde o lápis de carpinteiro ou o toco de carvão possa, sem dificuldade, traçar o roteiro da revelação. E para que depois de pronta a prancha, se faça com ela boa impressão.

Contrariando, porém, a semântica, a xilogravura nem sempre, atualmente, se mantém fiel à madeira. Há gravadores que trocaram a matéria-prima natural, produto cada vez mais escasso, pelo sintético, seguindo o exemplo do revolucionário Dila (José Cavalcante e Ferreira), o gravador de cangaceiros.

Diz J. Borges (Bezerros, Agreste pernambucano) que seu colega e amigo, o Dila de outros nomes e dupla carteira de identidade, adquiriu invejável perícia em lidar com a borracha artificial ou placas de bateria de automóvel, gravando nelas as figuras de cangaceiros ou demônios, como se estivesse cortando sabão. Mas entre ser amigo e seguidor de Dila, a distância é muito grande para Borges. Reconhece a qualidade do material sintético (superfície plana e regular, facilidade de corte e maior aderência ao papel na hora de impressão). Mas no seu caso particular, acha que abrir mão da madeira é perder algo irrecuperável.

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